Indústria pede ação do governo após tarifas de Trump sobre aço e alumínio
Setor cobra retomada de acordo de cotas com os EUA e alerta para risco de importações predatórias no mercado brasileiro O Instituto Aço Brasil, que represen...

Setor cobra retomada de acordo de cotas com os EUA e alerta para risco de importações predatórias no mercado brasileiro O Instituto Aço Brasil, que representa nove grandes siderúrgicas do país, manifestou preocupação com o aumento da tarifa de importação de aço pelos Estados Unidos para 50%, medida que entrou em vigor nesta quarta-feira (5). O setor defende a retomada do sistema de cotas e cobra ação do governo brasileiro nas negociações. “Ressaltamos a importância da atuação do governo brasileiro, por meio dos Ministérios das Relações Exteriores (MRE) e da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), para reestabelecer o acordo bilateral de 2018, que permitia exportações sem tarifa, dentro de cotas”, diz nota da entidade. No ano passado, o Brasil exportou 9,571 milhões de toneladas de aço, das quais 4,018 milhões – 42% – tiveram como destino o mercado americano. Sistema de cotas Até março, o Brasil podia exportar para os EUA até 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 687 mil toneladas de produtos acabados por ano, sem taxação adicional. Essa isenção acabou quando os EUA, sob gestão Donald Trump, impuseram tarifa de 25%, agora elevada para 50%. Segundo o Instituto Aço Brasil, a tarifa já provocou uma queda de 10% a 15% nas exportações brasileiras para os EUA, que são o maior comprador de aço semiacabado brasileiro. Só em 2024, os americanos importaram 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, sendo 3,5 milhões vindas do Brasil. A situação lembra 2018, quando o governo Trump impôs tarifa semelhante. Na época, o Brasil conseguiu negociar um acordo que permitia exportações dentro de cotas. Em relação à crise atual, o instituto elogia a atuação do governo brasileiro – e acredita que as negociações em andamento vão prosperar. “Acreditamos que seja possível repetir a negociação agora”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto. Há três fatores que, segundo a entidade, favorecem o Brasil: os Estados Unidos precisam dessas placas de aço semiacabados para produzir, por lá, itens acabados; o Brasil segue comprando carvão metalúrgico dos EUA, mesmo com a mudança de tarifas; a balança comercial entre os dois países é favorável para os Estados Unidos – ou seja, mesmo levando o aço em conta, os EUA exportam para o Brasil mais do que importam “Isso leva a crer que o sistema de cotas possa ser restabelecido”, diz Marco Polo. Empresários brasileiros refazem cálculos após Trump dobrar tarifas de aço e alumínio Alerta de desvio comercial Além da preocupação com os EUA, o setor teme um desvio de comércio que pode levar ao aumento de importações predatórias no Brasil. “O mercado brasileiro já está sendo inundado. Com essa medida dos EUA, o risco aumenta ainda mais”, afirma Marco Polo. O Instituto estima que o Brasil importará 5,3 milhões de toneladas de aço laminado neste ano. Desse total, a China deve participar com 76,1%. “Precisamos proteger urgentemente nosso mercado”, disse o presidente da entidade. Ele defende medidas de defesa comercial e a aplicação de tarifas antidumping. Governo brasileiro quer negociar Procurado, o Ministério da Indústria e Comércio disse que pretende aprofundar as negociações com os EUA. O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin lamentou o aumento da tarifa, mas defendeu o diálogo: “Lamento, mas o caminho é incentivar o diálogo. Já criamos um grupo de trabalho com o USTR [escritório de comércio dos EUA], e vamos aprofundar isso”, disse Alckmin nesta quarta (5), durante evento em Minas Gerais. Tarifas de Trump têm levado à escalada de guerra comercial global. Getty Images via BBC O vice lembrou que há uma complementaridade econômica entre os países: “Nós somos o segundo maior comprador de carvão siderúrgico dos EUA, e eles usam nossas placas para produzir motores, carros, aviões. Não somos problema para os EUA.” Alckmin afirmou ainda que o Brasil renovou 19 NCMs do aço (códigos usados para identificar produtos) e incluiu mais 4, conhecidas como “NCMs de fuga”, que permitem ações de defesa comercial contra importações predatórias. Entenda a tarifa A nova tarifa de 50% foi imposta unilateralmente pelos EUA como forma de proteger sua indústria local. A Inglaterra foi o único país isento, por ter acordo bilateral. A decisão é vista por analistas como uma retomada de medidas protecionistas semelhantes às aplicadas por Trump em 2018.